Vestígios retirados de 'habitat' são um meio para resolver crimes



Panilogia. Técnica para desvendar crimes a partir de amostras do ambiente
Nenhum criminoso consegue limpar os pólenes e esporos de uma cena do crime, porque não são detectáveis a olho nu. Mas há especialistas que analisam amostras retiradas de um habitat ou de uma região, através das quais resolvem complexos casos do foro criminal (e também civil).
Esta técnica, a dar os primeiros passos em Portugal, está a ser desenvolvida pela jovem investigadora de Coimbra Mafalda Faria. Só há cinco pessoas no mundo a fazer estas perícias. Para além de Patrícia Wiltshire (Reino Unido), Dallas Mildenhall (Nova Zelândia), Bryant Vanh (Estados Unidos da América) e Lynne Milne (Austrália), Mafalda Faria, do Instituto Nacional de Medicina Legal, é, também, uma delas.
Na manhã de 18 de Setembro de 2007, a especialista do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra, deslocou-se à Quinta da Portela (Coimbra), depois do estudante de Engenharia Civil, Manuel Assunção, ter atraído a sua ex-namorada para a morte. Os pólen e os esporos analisados em laboratório demonstraram inequivocamente que aquela vítima, Maria José Maurício, e o então alegado agressor, estiveram naquele local. "O cabelo da vítima e a camisola do suspeito só por grande proximidade ou contacto é que poderiam ter as mesmas amostras do local do crime. Por isso, provaram que o universitário esteve onde a jovem foi encontrada", diz a investigadora.
E explicou ao DN: "A análise palinológica, além de comparar perfis palinológicos entre amostras, é importante para determinar se a associação de plantas recolhidas é característica de um tipo de habitat ou região e se existem espécies endémicas".
Os primeiros casos documentados em que a palinologia foi usada na prática forense ocorreram na Suécia e Áustria (1969), mas usada regularmente e aceite em tribunal foi em 1980 na Nova Zelândia. De então para cá, outros países foram adoptando esta técnica em casos de terrorismo, rapto, violação, homicídio, assaltos, genocídio, entre outros.




A colheita efectuada em vivos ou cadáveres é feita no cabelo e na cavidade nasal. No cenário hipotético do crime, colhem-se amostras do solo: pólen, plantas, peugadas. Caracteriza-se o ambiente/habitat, por exemplo, um pinhal, uma duna, um lago. Os vestígios são tratados com uma mistura ácida e analisados ao microscópio. A transferência de pólen e esporos para um objecto ou/e uma pessoa, será, pois, uma espécie de filme exacto de uma ocorrência criminal.

Mafalda Faria, bióloga, está actualmente a fazer o pós-doutoramento em Palinologia Forense, com um bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Até agora, ainda não foi chamada à barra do tribunal. No caso do homicídio assumido pelo universitário, o seu relatório é um dos elementos de prova que está à consideração do Tribunal de Júri que hoje profere a sentença.

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